Um tema tem dominado o noticiário de forma monolítica, a
avanço do vírus Covid-19. A questão central é como os Estados Nacionais têm se
comportado diante de tal desafio. O esforço fundamental é compreender como as
medidas adotadas em escala nacional estão entrelaçadas com um dado maior, a
estrutura do sistema mundial.
O esforço de análise requer compreender como o raio-x do
sistema de saúde de cada país nesse momento está relacionado a adoção de
políticas públicas em um passado recente ou mesmo histórico. Países que
adotaram o modelo neoliberal, sem cobertura universal, encontram-se em uma
situação de maior vulnerabilidade. O preço do esvaziamento de orçamentos para
essa área será cobrado duramente nesse momento, assim como os cortes em áreas
essenciais como a pesquisa científica.
A presente reflexão irá se dividir em duas partes. Em
primeiro lugar será feita uma observação das medidas estritamente nacionais,
sendo resguardada a segunda a compreender como o comportamento na esfera das
relações internacionais é decisivo para os rumos do país.
Os
contornos do Brasil no combate à Covid-19
Em
termos brasileiros, assim como em outras nações, o cenário que se avizinha é o
do agravamento da pandemia e o contágio em massa. No que tange a atuação
política o que se tem assistido até agora são falas histriônicas de um
presidente bufão em suas aparições. O contra ponto no interior do próprio
governo é o ministro da saúde Luiz Henrique Mandetta. Com histórico de
parlamentar conservador, o político tem pautado suas ações no campo estrito da
ciência, sendo nítida a sua inclinação no decorrer da crise para a defesa do
Sistema Único da Saúde. Nesse tocante é perceptível a metamorfose sobretudo pela
adoção em seu figurino do jaleco azul do Sus nas suas coletivas de imprensa. O
protagonismo do Estado como provedor e ator político fundamental tem se dado em
escala mundial no combate ao Covid-19 e tem sido defendido até mesmo por
neoliberais empedernidos.
A relação de forças demonstra que no que tange a opinião
pública, o campo científico está acumulando forças e o isolamento social conta
com o respaldo de 76% da população segundo pesquisa publicada pelo instituto
Datafolha no dia seis de abril. Porém, o que deve ser pautado por ora são os
intestinos da política governamental. Afinal de contas o presidente possui
verdadeira aversão a qualquer figura pública que se destaque e ameace sua
suposta hegemonia. Assim foi também com seu ministro da Justiça e Segurança
Pública Sérgio Moro, recorrentemente fritado por ataques palacianos.
A questão que se coloca nessa queda de braço e se
demonstra essencial no enfretamento do vírus é a permanência ou não de Mandetta
a frente da pasta. Longe de ser unanimidade ou um paladino, sem sombra de
dúvidas é a opção menos arriscada para conter os arroubos do bonapartista Jair Bolsonaro.
O temor é a indicação de algum aventureiro para o posto. O dilema posto se dá entre negacionistas e os
defensores da ciência. Sendo que a história recente do combate em outros países
demonstra que o segundo campo está correto ao defender medidas de
distanciamento da população.
Uma
análise das Relações Internacionais diante da Pandemia
Para além do debate micro e restrito ao xadrex político
brasileiro, no campo internacional é importante salientar a articulação entre
estrutura e conjuntura. O combate ao vírus tem reforçado e deixado a nu as
configurações do sistema global. Enquanto países ricos demonstram força e
capital para acumular insumos no combate à doença, os países periféricos mínguam
em suas quantidades mínimas de leitos por habitantes.
O exemplo maior da disparidade é a corrida por aparelhos
respiradores, essenciais para manter vidas e que se tornou um marco nas
relações internacionais. Dados que chegam apontam para uma estratégia desleal
por parte dos Estados Unidos ao desviar cargas compradas por outros países e
reter mercadorias como máscaras de proteção.
Mesmo
diante de tal comportamento da nação estaduninense, o alinhamento brasileiro se
mostra incondicional, parecendo fazer eco ao slogan de Donald Trump, America First. A bandeira da defesa dos interesses
norte-americanos em primeiro lugar soaria natural, mesmo que egoística, por
parte dos cidadãos da nação. Porém o que causa espécie e estupefação é a
permanência de uma política entreguista e subordinada por parte de Jair Bolsonaro
a tais interesses forasteiros.
Exemplos
nesse talante abundam, como a manutenção de voos vindos dos Estados Unidos.
Tendo como contrapartida o fechamento de fronteiras para países com bem menos
casos registrados de Covid-19, como a Venezuela, Um comportamento meramente
ideológico e sem lastro real. Um segundo indício da subalternidade pode ser
acompanhado através de matéria veiculada pelo jornal Correio Braziliense que noticia
a convocação de uma reunião festiva por parte do Itamaraty para dar as boas
vindas ao novo embaixador dos Estados Unidos no Brasil, quando a orientação é
evitar aglomerações. O convite foi visto com maus olhos e constrangimento pelas
autoridades de outros países, que receberam com justificado temor o convescote.
Alguns
apontamentos finais
Para
concluir essa análise de conjuntura – que em como toda observação do real se
encontra em aberto – se destaca mais uma vez que o combate ao Covid-19 reforça
as desigualdades do sistema mundial. Os países que detém tecnologia mundial
saltam a frente na proteção de suas populações e aqueles que optaram por manter
um modelo de produção de commodities se veem de braços atados. O que assistimos
mais uma vez é a concentração de bens de produção sob o controle de uma
minoria. E em um curto prazo observaremos o empobrecimento ainda mais cruel de
amplos setores da sociedade em escala local e global.
O
debate sobre economia ou a prevenção da saúde tão somente reforça a lógica do
capital em não priorizar a maximização do uso da ciência em prol da maior parte
da sociedade, mas sim pura e simplesmente a maximização dos lucros. Mesmo que
isso custe milhares de vidas.
Marcio
Malta – professor do curso de Relações Internacionais da Universidade Federal
Fluminense (INEST/UFF).
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