quinta-feira, 15 de março de 2018

O que representa o assassinato de Marielle Franco

A notícia da morte da vereadora Marielle Franco, do Psol carioca pega a  todos de surpresa. Porém, os ingredientes ali contidos apontam para o significado da conjuntura em que estamos vivendo. A jovem e negra política egressa da favela da Maré vinha sistematicamente denunciando os desmandos e abusos da força policial e militar no âmbito da intervenção federal na segurança pública do estado do Rio de Janeiro. Assim como em 28 de fevereiro foi nomeada como relatora da Comissão da Câmara dos  Vereadores do município do Rio de Janeiro para acompanhar os desdobramentos da mesma intervenção.
Poucos dias antes de seu assassinato, ao que tudo indica na verdade uma execução, Marielle havia publicizado que policiais do Batalhão de Acari estavam desrespeitando os direitos humanos no local, tendo inclusive muotas mortes com requinte de crueldade e corpos desovados em valões.
A atuação do partido, que muitas das vezes é acusado de forma leviana por supostamente somente militar na zona sul aponta em direção contrária. No dia anterior de sua morte, Marielle juntamente com seu colega de bancada Tarcísio Motta, tinha se reunido com moradores da Vila Kennedy, a comunidade que mais vem sofrendo com  a intervenção federal por ter sido escolhida como bode expiatório e alvo central.
O assassinato da vereadora precisa ser investigado com seriedade pois representa uma tentativa de silenciamento e cerceamento das atividades parlamentares, que tem justamente dentre suas funções, além de legislar, fiscalizar o poder público.
Significa ainda um ataque frontal à democracia, afinal os parlamentares combativos são uns dos primeiros a serem atacados em um regime de exceção. Por último, cabe sistematizar a parcela de responsabilidade que setores conservadores e de direita tem neste atentado. Afinal ao atacam a pauta dos direitos humanos e banalizam a violência contra setores da esquerda. Relativizam ainda a existência do golpe e o regime militar em nosso passado recente, acabando por justificar ações autoritárias no presente. 

- Marcio Malta é cientista político e professor da Universidade Federal Fluminense

sábado, 10 de março de 2018

Apontamentos sobre a intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro

Alguns acontecimentos na esfera da segurança pública do Rio de Janeiro durante o último carnaval foram determinantes para a promulgação do decreto de intervenção federal no estado. Podemos listar pelos menos dois que ganharam amplo destaque nos grandes meios de comunicação:os assaltos nos calçadões das praias da zona sul e o saque a um nobre supermercado também na mesma região.

O enfoque espalhafatoso e espetacularizado da mídia serviu como pretexto para  a decisão do golpista Michel Temer enviar as Forças Armadas para o solo fluminense, mal dirigido por seu comparsa, digo, aliado de partido, Pezão. 

Urge refletir que, apesar dos crimes de menor potencial terem sido ocorridos em plagas ricas da cidade,os alvos são exclusivamente áreas pobres do estado, longínquas dos locais onde ocorreram os episódios citados durante a folia de Momo. O principal logradouro adotado para o cenário de guerra da ocupação militar foi a comunidade Vila Kennedy, localizada na zona oeste, sendo um conjunto habitacional às margens da Avenida Brasil.
A favela foi escolhida como uma espécie de retaliação pelo fato de meses antes um arsenal da marinha vizinho  ter sido roubado, até segunda ordem por criminosos do conjunto. 

Porém, quem paga o pato são os moradores. Afinal, não demoraram a chegar imagens degradantes de crianças tendo o seu material escolar revistado pelas tropas. Ou mesmo a última notícia que nos chega, de barracas de comerciantes honestos, porém irregulares, tendo seu sustento demolido por ações de choque de ordem da Prefeitura do Rio de Janeiro orquestradas por Crivella.

O cenário fica ainda mais revoltante quando refletimos com mais calma sobre os cenários que justificaram a operação. Afinal, poucos dias depois do anúncio do envio dos militares o marqueteiro de Temer admitiu em declaração ao jornalista Bernardo Mello Franco do jornal O Globo que todo a operação não passava de um golpe de marketing, um teatro na tentativa de restaurar a combalida  popularidade de seu chefe vampiro, que havia sido ridicularizado justamente no carnaval, no desfile da escola de samba Paraíso do Tuiuti. 
   
O Rio de Janeiro já se encontrava com suas forças esgotadas pelo assalto que a quadrilha do Mdb fizera aos seus cofres, serve agora como pano de fundo para as aventuras de Temer em busca de se cacifar como candidato à Presidente da República. Triste destino do  carioca, que saiu para brincar o carnaval e na volta encontrou homens fantasiados de camuflagem. Que servem apenas justamente para camuflar tanto abandono do poder público e na busca de um falso inimigo engana a opinião pública com tanques e soldados.

Marcio Malta é cientista político e professor da Uff