Um dos meus primeiros contatos
com a leitura foi através dos jornais. Meu pai sempre teve esse hábito de
leitura. Cursara apenas o primário, ou até a quarta série, como ele costumava
dizer. Mas gostava de se manter informado. Talvez até como uma defesa pela
falta de instrução.
A
minha porta de entrada dos diários foi pela seção de quadrinhos. Me recordo que
comecei a desenhar copiando os personagens. Primeiro um Mickey, uma turma da
Mônica... Até chegar a drogas mais pesadas como as charges da primeira página.
O
interessante é que os quadrinhos não requerem maiores predisposições para a
leitura ou para o desenhista iniciante que os copiava. Mas as charges eram mais
capciosas. Uma vez fiz uma
charge com o então presidente Fernando Henrique Cardoso com um boné do PMDB.
Rapidamente percebi minha gafe, afinal ele era filiado ao PSDB. Senti uma
necessidade de me enfronhar nas páginas políticas com maior dedicação para não
cometer essa sorte de erros.
O
caminho foi sem volta. Passei a me interessar mais e mais não só pela política,
mas também pela sociologia, que descobri ao ler em um livro didático de
história. Em uma legenda de foto do mesmo FHC, onde o autor o creditava como
sociólogo.
As
bancas de jornal sempre foram o meu portal maior para o mundo da leitura. A
banca da rodoviária de Niterói já me acompanhava desde a época dos gibis, ou
mesmo quando comecei a tatear o violão e a busca era por revistas de cifras. Em
tempos pré-internet era assim que se buscava uma música. Ou mesmo em manuais
para iniciantes.
A
partir de 2000 passei a conjugar a faculdade de ciências sociais na UFF com os
meus rabiscos. Publicava sempre em fanzines, jornais de diretórios acadêmicos,
mas uma das minhas maiores glórias só viriam cerca de três anos depois.
Consegui emplacar uma charge na edição impressa do jornal "O Pasquim 21",
uma reedição do lendário e combativo Pasquim.
Ver
o meu desenho nas bancas foi uma das maiores alegrias que senti na minha ainda
curta vida. Era interessante que mesmo com a reprodução gráfica, ou seja,
milhares de exemplares, eu tive o gosto de ir em algumas bancas só pra folhear
aquela edição e conferir meu desenho ali.
Hoje
em dia já não tenho mais esse hábito mordaz, mas gostava de todas as vezes que
um desenho meu era publicado, arquivar algumas cópias daquele feito. É claro
que a falta do espaço físico contribuiu para o abandono do hábito, mas todas as
vezes que ouço falar na morte da imprensa chego a rir, pois somente aqueles que
cultivam tal rotina sabem o prazer de ir comprar um jornal em uma manhã e
folhear as páginas como um flâneur de notícias.
Com
o advento dos blogs e a mania das redes sociais boa parte dos jornais e
revistas deixaram de existir ou perderam importância. Mas o mundo das rotativas
ainda me impressiona e traz uma nostalgia, quando de barriga no chão lia
aqueles quadrinhos do Segundo Caderno que meu pai não fazia tanta questão,
posto que a política e a economia eram sua predileção. Hoje em dia acho que sairíamos
no tapa pela primazia.
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