sábado, 10 de março de 2018

Apontamentos sobre a intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro

Alguns acontecimentos na esfera da segurança pública do Rio de Janeiro durante o último carnaval foram determinantes para a promulgação do decreto de intervenção federal no estado. Podemos listar pelos menos dois que ganharam amplo destaque nos grandes meios de comunicação:os assaltos nos calçadões das praias da zona sul e o saque a um nobre supermercado também na mesma região.

O enfoque espalhafatoso e espetacularizado da mídia serviu como pretexto para  a decisão do golpista Michel Temer enviar as Forças Armadas para o solo fluminense, mal dirigido por seu comparsa, digo, aliado de partido, Pezão. 

Urge refletir que, apesar dos crimes de menor potencial terem sido ocorridos em plagas ricas da cidade,os alvos são exclusivamente áreas pobres do estado, longínquas dos locais onde ocorreram os episódios citados durante a folia de Momo. O principal logradouro adotado para o cenário de guerra da ocupação militar foi a comunidade Vila Kennedy, localizada na zona oeste, sendo um conjunto habitacional às margens da Avenida Brasil.
A favela foi escolhida como uma espécie de retaliação pelo fato de meses antes um arsenal da marinha vizinho  ter sido roubado, até segunda ordem por criminosos do conjunto. 

Porém, quem paga o pato são os moradores. Afinal, não demoraram a chegar imagens degradantes de crianças tendo o seu material escolar revistado pelas tropas. Ou mesmo a última notícia que nos chega, de barracas de comerciantes honestos, porém irregulares, tendo seu sustento demolido por ações de choque de ordem da Prefeitura do Rio de Janeiro orquestradas por Crivella.

O cenário fica ainda mais revoltante quando refletimos com mais calma sobre os cenários que justificaram a operação. Afinal, poucos dias depois do anúncio do envio dos militares o marqueteiro de Temer admitiu em declaração ao jornalista Bernardo Mello Franco do jornal O Globo que todo a operação não passava de um golpe de marketing, um teatro na tentativa de restaurar a combalida  popularidade de seu chefe vampiro, que havia sido ridicularizado justamente no carnaval, no desfile da escola de samba Paraíso do Tuiuti. 
   
O Rio de Janeiro já se encontrava com suas forças esgotadas pelo assalto que a quadrilha do Mdb fizera aos seus cofres, serve agora como pano de fundo para as aventuras de Temer em busca de se cacifar como candidato à Presidente da República. Triste destino do  carioca, que saiu para brincar o carnaval e na volta encontrou homens fantasiados de camuflagem. Que servem apenas justamente para camuflar tanto abandono do poder público e na busca de um falso inimigo engana a opinião pública com tanques e soldados.

Marcio Malta é cientista político e professor da Uff

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